sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O efeito do ato






Esse ato, narrado pelo apóstolo

Perpetua-se pelas Sagradas Escrituras

Trouxe-nos a alegria, a crença e a lealdade



Porém antes, sobreveio somente aflição

Enorme consternação e desconfiança

Foi como se tivéssemos perdido a esperança



O varão disse-nos:

Venham à Macedônia e nos ajude

Mas, não preguem seus costumes



Se, perturbarem a nossa ordem

A multidão se levantará contra vocês

E lhes constrangerão; ao cárcere, lançar-vos-ão



Dito feito, fato consumado

Rasgam-nos as vestes

Prendem-nos ao tronco



Açoitam-nos com varas

E, por volta da meia-noite

Eis que, surge um terremoto



Enorme tremor que sacudiu os alicerces do presídio

Todas as portas se abriram

E as correntes dos subjugados se soltaram



E, nossos olhos contemplaram o inimaginável

Há quem duvide

Acredite quem tiver juízo





*Baseado em: Atos dos Apóstolos, Capítulo 16

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Assim como Drummond, eu sou


Retorcendo o meu “Eu”

Descubro minhas faces

São muitas

São sete

Sou triste

Ora, orgulhoso

Sou de ferro

Puro e pernicioso

Tranquilo, mas ansioso

Perdi mulheres

Ganhei horizontes

Me divirto, ainda hoje

Com o ato de sofrer, de perder

De guardar e de querer viver

Inspira-me Drummond!

Faça-me ler-te e reler-te de novo

Ontem, agora, daqui a pouco

Amanhã e depois de amanhã tu renascerá

Dê-me as pistas e minha busca, vã, não será

Nem no ano velho, muito menos no ano novo

Conheci-te na mocidade, plena idade, vigoroso

Hoje, nobre meia-idade, vagaroso

Atravesso o pórtico das eras, silencioso

Por ti, meu poeta, tornar-me-ei novamente portentoso





*Ao mestre: Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sobre Moby Dick, romance de Herman Melville








O original de Moby Dick foi publicado em três fascículos com o título de “Moby-Dick ou A Baleia” em Londres no ano de 1851, e, ainda no mesmo ano, em Nova York, numa edição integral pelo escritor americano Herman Melville.

O título da obra basea-se no cachalote branco, que por ter sido ferido por caçadores de baleias, enfurece-se e destrói todos eles. A baleia era imensa e repleta de arpões em seu corpo, sua mandíbula era torta em forma de um arco.

O tripulante Ahab, durante a primeira batalha, tinha fincado um arpão no dorso de Moby Dick, daí veio-lhe a vingativa idéia de arrancar a perna do capitão.

Sem dúvida, um livro intrigante e revolucionário para sua época, com descrições de difícil compreensão sobre as aventuras marítmas obscuras de Ismael.

Suas reflexões pessoais permeada entre trechos de não-ficção sobre assuntos relacionados aos trabalhadores do mar, métodos de caça às baleias, arpões, a profundidade da cor branca do cachalote, e detalhes sobre as embarcações e seus funcionamentos específicos, além da arte de armazenar e preservar produtos extraídos das baleias.

Herman Melville foi um marujo da marinha mercante. Os detalhes narrados com propriedade e muito realismo são capazes de transportar o leitor ao ambiente descrito e, suas sensações, trazem a tona uma confirmação: que o escritor viveu em barcos baleeiros e tinha muita experiência nesse ofício.

Portanto, o livro poderia ter sido um relato de aventura ou um testemunho.

Moby Dick chegou aos lares norte-americanos na forma de desenho animado da Hanna-Barbera. No desenho, dois adolescentes: Tub e Tom são resgatados por Moby Dick após um naufrágio. Tornam-se amigos e ao lado do mascote Scooby, enfrentam os perigos e infortúnios do misterioso fundo do mar.

Esse desenho, de enorme sucesso entre crianças e jovens, foi exibido pelo canal CBS durante dois anos, a partir de 1967, sendo rapidamente espalhado por todo o ocidente. O que, de certa forma, deu mais popularidade a obra. Crianças, jovens e adultos que nunca leram o romance tinham a oportunidade do recurso televisivo, acompanhando uma série de aventuras adaptadas à obra.Também foi produzido um filme sobre o romance, dirigido por John Houston.

A obra Moby Dick, de Herman Melville, apesar de tratar de um tema específico, é abrangente no aspecto artístico e também contribuiu influenciando a música eletrônica de Richard Melville Hall, o 'Moby' em referência ao parentesco entre o autor da obra e o músico.

O Led Zeppelin, um ícone da história do rock, criou uma canção instrumental epônima, parte integrante do album/filme: ‘The Songs Remains the Same’, onde pode-se constatar e apreciar uma das maiores performances de John Bohan à bateria.





Fonte:

*Melville, Herman Moby Dick Editora: Penguin Classics, 2003

*Led Zeppelin: Moby Dick (Bonham, Jones, Page) – 12:47min: ‘The Songs Remains de Same’ (1976)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Em Berlim: um muro, um povo










Tua lua nos eleva, entre cercas, cães e fuzis

Faço uma retrospectiva das paixões, dos labores...

Mas, só me percebo agora, em tuas fotografias velhas

Nos desejos suprimidos, na vida cinza e infeliz, nos poucos amores




Enquanto sigo em frente, busco alternativas, consolações

Não temo o futuro, me acostumei com o presente

Meus olhos miraram muitos cadáveres conhecidos

Estão escuros de sangue quente numa velha face empalidecida

Mas, foram curiosos e transbordavam indignação diante aos suprimidos




13 de agosto de 1961, uma nova nação composta da mesma gente

Por decisão do governo socialista da Alemanha Oriental

Tem-se a construção de um muro fatal

Um planeta inteiro, etnias, continentes e economias

Divididas estão, nossa população e sua capital




Foi uma experiência comunista fracassada?

Quatro décadas de totalitarismo e lavagem cerebral

As cicatrizes estão no asfalto, no sistema e nas gerações

Outros tantos ansiosos, querendo deixar para trás

O leste trazia desengano, emprego, um lar e ordens do soberano




Alguém lhe tapeia?

Ou estás a tapear?

Dias de trabalho, linhas de produção num bom ou mal cotidiano?

O que são minhas noites, meus sonhos, minha paz, minha gente, mãos e calos são consolos?

Homens ao lado, não queiram atravessar, homens à frente fardados, transpô-los, nem adianta tentar




Precisava fluir outros rumos

Pular aquele muro, deixar esse local

Dizem-me ser de oportunidades

Isso me desperta interesse

O lado do sol ocidental




Aqui não tenho lucro, mas sou produtivo

Não reclamo, vivo ocupado, sou magro, tenho princípios

Sempre haverá fábricas, fazendas, mercados, ativos e passivos

Mas, do que valerá meu prazer com essas mulheres?

Alegrias supérfluas num céu opaco e sem filhos e posses por temer deixar o legado de minha miséria confiscada




O grito dos mortos ecoa naquele lugar, na linha tracejada

Cicatrizes nos tijolos e no asfalto me acenam

A diferença entre obedecer ou negar o sistema

Produção sem o lucro é meu fantasma nessa cidade

Uma vida desconsiderada pela busca da liberdade plena




Minha tenacidade me fez recuar tantas vezes

Mas, hoje boquiaberto

Vejo martelos, braços, picaretas derrubando concreto, quebrando tijolos

Cai o muro, surgem poemas e aplausos, um marco na história pela fronteira aberta bem à minha frente

Fluímos rumo ao desconhecido ocidente, o leste liberto desperta contente


O homem e sua vida ganhando escolhas?






*Muro de Berlim: 13 de agosto de 1961 - 9 de novembro de 1989.

As centenas de tentativas de fuga para o lado ocidental causaram a morte de 80 pessoas e 112 ficaram feridas de acordo com os números do governo alemão.