Se, atentamente puderes me ouvir:
Não leia, abandone os livros!
Eles poderão causar-lhe males irreversíveis
Pois, acordam os homens para realidades impossíveis
Lendo, tornei-me incapaz de suportar a insipidez do mundo
Por eles, fui induzido a cometer loucuras, fiz-me Quixote
Por sorte, teria morrido feliz e ignorante
Meti-me rumo afora, lutando sobre meu Rocinante
A realidade do cotidiano me fere com o preço do labor
Mas, adentrando-me numa biblioteca, descubro um novo sabor
Os livros provocam-me inesperados e limpos atalhos
Doravante, sem eles, tropeçaria em pedras e cascalhos
Nas histórias de Maugham, Wilde, Henry Miller e Calvino
Deixei de ser apenas átomos em movimento, descobri dimensões
Não me inclino ao absurdo, sou lúdico e ainda menino
Espírito diferente querendo aventuras e ignorando os desatinos
Ler traz problemas sociais graves, deixa-nos conscientes demais
Se todas as sociedades lessem, seria impossível controlá-las e organizá-las
Teríamos posição definida no mundo e saberíamos articular as variações
Melhor é ler apenas os manuais de instruções
Seríamos subversivos, não existiriam fronteiras nem prisões
Ler devia ser coisa singular, termo de grande valia
Não é para todos, só para os loucos
Para quem suporta dores, alegrias, inúmeras sensações, e esses são poucos
Ato obsceno ter um livro às mãos
Expõe as entranhas, torna o sentimento íntimo, coletivo
Para obedecermos não é necessário sabermos
Para sermos submissos não é preciso discernir
Por isso ler é perigoso, faz-nos demasiadamente humanos
Quando emanar essa vontade relute, trabalhe ou então, vá dormir
*Baseado em texto de Guiomar de Grammon
Nenhum comentário:
Postar um comentário