terça-feira, 16 de março de 2010

Abandone os livros, ler é perigoso



Se, atentamente puderes me ouvir:

Não leia, abandone os livros!

Eles poderão causar-lhe males irreversíveis

Pois, acordam os homens para realidades impossíveis


Lendo, tornei-me incapaz de suportar a insipidez do mundo

Por eles, fui induzido a cometer loucuras, fiz-me Quixote

Por sorte, teria morrido feliz e ignorante

Meti-me rumo afora, lutando sobre meu Rocinante


A realidade do cotidiano me fere com o preço do labor

Mas, adentrando-me numa biblioteca, descubro um novo sabor

Os livros provocam-me inesperados e limpos atalhos

Doravante, sem eles, tropeçaria em pedras e cascalhos


Nas histórias de Maugham, Wilde, Henry Miller e Calvino

Deixei de ser apenas átomos em movimento, descobri dimensões

Não me inclino ao absurdo, sou lúdico e ainda menino

Espírito diferente querendo aventuras e ignorando os desatinos


Ler traz problemas sociais graves, deixa-nos conscientes demais

Se todas as sociedades lessem, seria impossível controlá-las e organizá-las

Teríamos posição definida no mundo e saberíamos articular as variações

Melhor é ler apenas os manuais de instruções


Seríamos subversivos, não existiriam fronteiras nem prisões

Ler devia ser coisa singular, termo de grande valia

Não é para todos, só para os loucos

Para quem suporta dores, alegrias, inúmeras sensações, e esses são poucos


Ato obsceno ter um livro às mãos

Expõe as entranhas, torna o sentimento íntimo, coletivo

Para obedecermos não é necessário sabermos

Para sermos submissos não é preciso discernir

Por isso ler é perigoso, faz-nos demasiadamente humanos

Quando emanar essa vontade relute, trabalhe ou então, vá dormir



*Baseado em texto de Guiomar de Grammon

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