quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

No tempo em que aceitávamos as delícias preparadas










I



Teu prazer me entendia, trazia-me paz

Na colheita anual de 73, perdemos a inocência, fez-se trégua

Éramos fortes, avançávamos em nome da existência fugaz

Degustávamos tintos secos com procedência

Amávamo-nos entre estranhos, sob o sol, entregamo-nos em essência



II



Como fidalgos, sentávamos à mesa com decência

Entreolhando-nos, aceitávamos as delícias preparadas

Tudo nela nos pertencia, as provávamos e sorríamos

Bebíamos o sangue, a carne fria e as iguarias, comíamos

Espalhávamos discursos que uma palavra esgotar-nos-ia

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

No bar do Joaquim, com amigos beberiquei






I



Visitei a velha cidade empoeirada

Não era a mesma, abstraíra-se de mim

Cães famintos, transeuntes insanos, pedintes profanos




II



Todos me rodeavam, falastrões chafurdavam

Copo, deste lado, o término nunca existiu, enfim

Brindemos amigos, no bar do Joaquim!














*Homenagem aos amigos de boteco

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Fiz a lição, mas não houve correção





Bati à porta do professor
E não me cansei de esperar, aguardei
Logo ele me atenderá, afirmei



Levantei cedo, em tempo?, atrasei!
Partiu antes, dobrou a esquina, densa neblina
Aquela lição ficou sem correção

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ponto de mutação (1992)







“Quando as portas da percepção forem abertas

veremos as coisas como elas realmente são: infinitas.”

(W. Blake)




  • Direção: Bernt Capra
  • Baseado em livro de Fritjof Capra (1982)
  • Personagens: Uma cientista, um político (candidato a presidência dos EUA) e um poeta escritor.

Encontro das personagens: Monte São Michel, França (analogia do lugar escolhido com o pensamento do Século XVII).

Idéias, reflexões e proposições marcam os diálogos.

A personagem cientista é representada por uma mulher que passa por uma crise de identidade profissional, visto que suas experiências foram utilizadas para fins não pacíficos.


O político enfrenta conflitos pessoais por não ter sido eleito presidente dos EUA e, decide visitar o amigo poeta para, quem sabe, redescobrir o caminho do sucesso pessoal e profissional.


O poeta é platônico e possui uma visão holística do mundo. Procura em seus pontos de vista ser antagônico ao pensamento do político.

Ao se encontrarem, a cientista e o poeta, ambos ganham força e seus questionamentos junto ao político o fazem despertar para uma nova visão do mundo que herdaram e vivem.


Há possibilidade de ruptura do pensamento cartesiano, nesses diálogos entre as personagens, então, supõe-se que o paradigma dominante está sendo revisto e questionado.

Houve o período de apogeu e glória desta linha de ensino-aprendizagem e atualmente ela é nada mais que uma representação do passado incorporado no presente.


A visão contemporânea aperfeiçoada tende a romper com o pensamento medieval imposto a mais de trezentos anos.

Esse embrião do novo paradigma deve gerar novos meios e novos caminhos para a sociedade contemporânea, unindo conhecimento científico com experiência política e conhecimento empírico (como uma forma de visão platônica do mundo atual e futuro).

Então, unindo o conhecimento científico com o conhecimento empírico chegaremos a esse novo paradigma proposto.

Devemos manter uma tênue relação entre todos os elementos do Universo, analisar “O Todo” como um grande contexto a ser abordado agora e nas gerações futuras.

As questões do mundo intuitivo passam a ser uma necessidade atual, enquanto as questões mensuráveis pela ciência passam a ser o “velho paradigma”. Mas, ambas devem estar em harmonia plena.


No seu livro, Fritjof Capra questiona o papel do Homem como detentor das ciências e deixa claro que tudo é passível de análise e que há várias formas de entendimento e interpretação e que nem todos entendem a mesma coisa sobre determinado assunto ou teoria.


Como formadores de opinião conscientes do papel exercido para a formação de novas gerações de pensadores devemos nutrir debates, questionar, indagar e analisar as teorias antes de aceita-las plenamente.

Também devemos saber que o que não conseguimos explicar é devido somente à falta de conhecimento que temos sobre aquele determinado assunto.


No modelo Cartesiano de educação, fragmentamos os conteúdos e fragmentamos o conhecimento.

Há, portanto, uma especialização dos saberes em detrimento do conhecimento como um todo.

O discente aprende de forma isolada sem conseguir gerar uma ramificação das relações, das causas e dos efeitos das matérias estudadas.

Deveríamos ser educados para estarmos preparados e em equilibro para, antes de aceitarmos opiniões impostas, buscarmos entendê-las no contexto em que foram criadas e citadas.

Esse, portanto seria nosso “Ponto de mutação”.


A evolução de nossa visão holística sobre os seres, as filosofias e as coisas.

Agir de forma passiva e sem atitude diante de impasses ideológicos, didáticos, políticos ou educacionais, também não é a solução para os problemas que nos circundam.

O modelo da “indiferença plena” deve ser descartado.

Todavia, a busca incessante do conhecimento holístico como embasamento entre todos os elementos que regem o Universo, torna-se imprescindível para formação das novas sociedades.

Também deveríamos estar aptos a explanar nossas idéias de forma coerente clara e enfática e não-fundamentalista, sendo flexíveis quando a situação exigir esse comportamento.

A busca constante do conhecimento, ampliando os limites cognitivos de quem aprende como aluno sedento por conhecimento e de educador, apto a facilitar os mecanismos de ensino-aprendizagem.


A nossa mutação evolutiva formará um novo Homem, num novo planeta auto-sustentável.

Deste modo, cria-se uma interação mútua geradora de benefício a todos, trazendo crescimento cognitivo causador de produtividade dentro do contexto escolar e acadêmico, consequentemente, entendendo-se ao contexto social e político.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Quando me deparei com aquela tempestade em janeiro





A voz da tempestade, em meus ouvidos, ecoou:
Sem acepção, os bons e os maus temerão os dias vindouros!
Ao longe pude ouvi-la e agora, rapidamente se aproximou
Diante desse sonho, desfez-se a nebulosidade nos meus olhos


Quem se alegrará na alvorada?
Resta-me um verso, raio de lucidez na calçada alagada
Não molhe nossas bibliotecas, nossas roupas no varal
Purifique nossos ares, preserve nossos livros, nossas fotografias, nossos filhos


Acene-me, com ramos e ventos suaves, ao final
Vi um menino deslizar pela enxurrada...
... Sem rastro, como a noite negra que passou
Em seu tecido encharcado e gasto, reparava-me


À minha frente, sua face pálida me fitou
Nunca mais me esqueci daqueles olhos desconcertantes
Porque aquele olhar refletido n' água precipitada


Ah meu Deus, fez-me chorar!
Era negro e profundo...
... Era o meu, a me questionar

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Há três dias a chuva cai e você está vivo







Não sou conselheiro

Nem escravo do dinheiro

Mas, se puder ouvir, vou lhe dizer:

É divertido estar vivo! Pode crer!



É sedutor flertar com o fogo

Mas, o que alimenta as chamas?

Os corpos?

Meu ego, seus dramas?



Isso então me mostra como é perigoso amadurecer

Serve-me como lição

Mantendo-se fiel aos princípios

Sendo prudente, sem perder a razão



Vou queimar-me sem parar, para todo sempre

E sempre, numa visão romanceada da verdade

De que é melhor

Estar vivo do que morto



Absorto, vejo um pássaro amarelo
Que canta e voa sem preocupação

Eu, incomodado, em minha casa atrás da janela

Ouço a chuva há três dias

E o pássaro, indiferente, voa e canta sob ela