quinta-feira, 2 de julho de 2009

Senhor vinho




Baseado na obra: "Paraísos Artificiais": 'Sobre o vinho':

Charles Baudelaire (1821-1867)



Quem não conhece
Os prazeres que o vinho tem?

Aos que o invocam
Aplaca remorsos

Evoca lembranças

Elimina dores também

Sob seus domínios

Se constroem castelos

Ganha-se uma segunda juventude

Consciência, fortuna, virtude

Volúpias fulminantes

Encantamentos enervantes

Escondido nas fibras da videira

Um deus misterioso

Surge grandioso, em plenitude

Mas a semelhança é do homem

Quem terá coragem

De condenar suas vicissitudes?

Além disso

O vinho não é um lutador

Certo de vitória

Na face da dor

Não quer misericórdia

Piedade ou amor

Portanto, humanos seres

Não sejamos cruéis com ele

Tratemo-nos como um igual

Às vezes, ouço sua voz

Uma voz celestial

Que me irrompe da prisão real

Em minha cela de vidro

Entre aldravas de cortiça

Um clamor cheio de vida

Devo-lhe minha dança

Eliminou minha preguiça

E lhe recompensarei com bonança

Com generosidade e venturas

Hoje, livre de agruras

Sou a esperança dos domingos

Ressoa-me a glória dos tempos passados

Os cânticos de amor ressoados

Brindo com inimigos atordoados

Sou a alma da pátria galante

Quando caíres no fundo de meu peito

Íntima poesia num instante

A nós, invoco deuses e flutuo

Como pássaros, perfumes incessantes

Intrépidos seres andantes

Eis que ouço a nitidez

Numa canção extasiada

Maldito aquele cujo coração

Pulsa egoísmo e ingratidão

Óh! Senhor Vinho

Ergo-lhe minha taça

Elixir de nobre raça

Encontrá-lo-ei diariamente

A descansar em minha adega

Bebê-lo-ei em minha mesa

Será minha entrega, minha certeza

Em seus braços descansarei

Brindemos:

Longa vida ao Rei!



In vino veritas




*MRM, enóleo


Nenhum comentário:

Postar um comentário