Charles Baudelaire (1821-1867)
Quem não conhece
Os prazeres que o vinho tem?
Aos que o invocam
Aplaca remorsos
Evoca lembranças
Elimina dores também
Se constroem castelos
Ganha-se uma segunda juventude
Consciência, fortuna, virtude
Volúpias fulminantes
Encantamentos enervantes
Um deus misterioso
Surge grandioso, em plenitude
Mas a semelhança é do homem
Quem terá coragem
De condenar suas vicissitudes?
O vinho não é um lutador
Certo de vitória
Na face da dor
Não quer misericórdia
Piedade ou amor
Não sejamos cruéis com ele
Tratemo-nos como um igual
Uma voz celestial
Que me irrompe da prisão real
Em minha cela de vidro
Entre aldravas de cortiça
Um clamor cheio de vida
Devo-lhe minha dança
Eliminou minha preguiça
E lhe recompensarei com bonança
Hoje, livre de agruras
Sou a esperança dos domingos
Ressoa-me a glória dos tempos passados
Os cânticos de amor ressoados
Brindo com inimigos atordoados
Quando caíres no fundo de meu peito
Íntima poesia num instante
A nós, invoco deuses e flutuo
Como pássaros, perfumes incessantes
Intrépidos seres andantes
Numa canção extasiada
Maldito aquele cujo coração
Pulsa egoísmo e ingratidão
Óh! Senhor Vinho
Ergo-lhe minha taça
Elixir de nobre raça
A descansar em minha adega
Bebê-lo-ei em minha mesa
Será minha entrega, minha certeza
Em seus braços descansarei
Brindemos:
Longa vida ao Rei!
In vino veritas
*MRM, enóleo
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