quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sobre François-Marie Arouet, o Voltaire




I



Luís XIV reinava a França em 1694.

Seu reinado era próspero para a realeza, mas infeliz para o povo francês.

A sede da corte era em Versalhes, na verdade um paraíso aos subordinados e aliados de Sua Majestade.

Construíra-se uma vida artificial e parasitária ao redor de Luís XIV.

Uma nobreza ociosa que preenchia seu tempo com concursos literários, teatrais, ocultismo e filosofias.

Enquanto o povo, fora dos muros reais, sucumbia à miséria, a fome e aos altos impostos.

Naquele ano, no dia 21 de novembro nascia uma das figuras mais célebres da história da humanidade: François-Marie Arouet, o futuro "Voltaire".



II



O jovem Voltaire crescia numa pequena cidade, alheio a tudo isso, mas, em meio aos livros e estudos promovidos por uma senhora simpatizante da família Arouet.

Esse mergulho na leitura determinou os rumos de sua vida.

Matriculou-se no curso de Direito, mas não frequentava as aulas.

Apreciava as tavernas, as francesas e suas bebedeiras eram assíduas.

Tornou-se secretário do marquês Châteauneuf e embarcou para a Holanda em 1713, por onde permaneceu por dois anos.

Seu regresso coincide com a morte de Luís XIV, e a posse do herdeiro do trono; uma criança que acabará de ser presenteada pelo destino com uma nação corrompida pelas mazelas governamentais.

Houve uma explosão de libertinagem e corrupção e, Arouet, com então, 21 anos sentiu-se a vontade para ingressar nesse ambiente mundano.

Destacava-se como exímio contador de anedotas e possuía a língua mais ferina entre seus pares.

Essa audácia sofreu sua primeira censura e, o jovem humorista viu-se preso aos 23 anos.

Foi levado à Bastilha, e lá conheceu opositores políticos, intelectuais rebeldes e muitos desafetos do extinto rei.

Sua reclusão foi profícua: criou uma peça para teatro: Édipo e um poema épico: Henriade.

Ambos sob a alcunha do pseudônimo Voltaire.

Depois de liberto, o artista passou a receber uma pensão anual, que lhe trouxe certa independência financeira.

Édipo se torna o grande sucesso teatral da temporada.

Mas, o sucesso cobra seu preço e, no alto de sua soberba escreve um fracassado enredo teatral: Artemire.

Envolveu-se então em diversos impasses sociais e foi convidado a partir para a Inglaterra ou voltar para a Bastilha.

Preferiu a primeira opção.

Do outro lado do Canal da Mancha, experimentou uma liberdade de pensamento nunca imaginada em seu país natal.

Swift, Pope, Locke e tantos outros filósofos e literatos discutiam suas obras, temas e opiniões de maneira pública e com apoio das instituições monárquicas daquela ilha.

Retornou para Paris em 1729, mais sarcástico e afiado do que nunca. Nessa época contava 35 anos de idade.

Sua presença continuava indesejada e Voltaire transitava misteriosamente pelo reino, ora em Paris, ora em Versalhes, às vezes diziam estar na Bélgica, outra vez na Holanda...

Sempre com o paradeiro incerto, devido aos inúmeros mandados de prisão, ao mesmo tempo escrevia para o teatro e dava inicio a sua obra mais contundente: O século de Luís XIV.

Contudo, uma apologia ofensiva ao reinado francês fez com que essa obra fosse interrompida e trancafiada e só publicada em 1751.

Mas, as coisas começaram a melhorar na vida de Voltaire.

Conseguiu, um emprego de historiógrafo real, o título de fidalgo e um lugar na Academia francesa.

Voltaire cria, então, um novo gênero literário: “o conto filosófico”, sendo o "Dicionário Filosófico" de 1764, um dos mais famosos até hoje.



III


O ano era 1755 e um terremoto de proporções nunca vistas naquelas plagas destrói Lisboa.

O povo europeu, extremamente supersticioso explicava como sendo o castigo de Deus sobre os portugueses.

Voltaire publica quatro anos mais tarde: “Cândido ou O Otimismo”, considerado pelos críticos seu melhor conto filosófico.

Na verdade uma resposta ao pensador e matemático Leibniz, que atestava: “Vivemos no melhor dos mundos”.


Em meio a tudo e todos, o filósofo continuava sua empreitada contra as injustiças sociais e a corrupção na nobreza e no clero.

Tornou-se uma espécie de ídolo do povo francês, era aclamado como “Defensor Público” dos injustiçados.

Com a morte de Luís XV, novo regresso a Paris, mas uma viagem desgastante abalou a saúde de Voltaire.

Mesmo debilitado e ranzinza, teve força para expulsar todos os padres e médicos que tentaram visitá-lo.

Uma de suas últimas frases registradas pelo seu secretário particular dizia enfática:

“Morro amando a Deus e meus amigos, não odiando meus inimigos e odiando a superstição.”


Em 30 de maio aos 84 anos, o nobre filósofo perdia a batalha contra a morte.

O governo de Paris recusou-se a enterrá-lo.

Amigos o conduziram sentado numa carruagem até Salier.

Doze anos depois a Assembléia Nacional da Revolução obrigou a vinda do corpo para o Panteão na capital francesa.

Foi aclamado e ovacionado por uma multidão.


Cerca de setecentas mil pessoas acompanharam o cortejo.



"(...) Todos os acontecimentos desencadeiam no melhor dos mundos possíveis. Se não tivéssemos sido expulsos de castelos, senão tivéssemos parados nas mãos da Inquisição, percorrido as Américas, perdido carneiros e duelado com o Barão não estaríamos comendo cidras e pistaches.


Muito bem, disse Cândido, mas é preciso continuar cultivando nosso jardim.”



*Fonte:



  • Voltaire: Vida e Obra: Editora Nova Cultural

  • Cândido ou O Otimismo: Edições de Ouro

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