Boa noite professor...
... O senhor já viu o novo quadro do pintor?
Aquele quadro do Guimarães Rosa montado em um cavalo negro?
Sim, esse mesmo... O que achou?
A sombra entre os dois poderia ter ficado
melhor
Ah, professor...
Nenhum detalhe escapa ao senhor!
Afinal, qual matéria, na escola, lecionou?
Todas meu filho, todas!
Inclusive literatura grega e arte chinesa
Tem certeza?
Por aqui, nunca tivemos essas matérias!
Você já foi meu aluno?
Não...
... Então!
Eis que, chega o pintor acompanhado de um amigo
Boa noite senhores, o que se passa?
Estávamos falando do seu quadro mais recente...
... Hum, o que achou professor?
Você, meu filho, bem que poderia fazer coisa mais decente!
E, o amigo do pintor pôs-se a rir freneticamente
Quem é você? - Indagou o poeta amigo do professor
Eu sou colecionador de besouros e também sou escritor
Escrevo livros infantis, pois os besouros não estão cobrindo as despesas
Vamos tomar uma cerveja, temos muito assunto para essa noite
O professor adentrou-se e sumiu por breve instante
Voltou com latas de cerveja e várias bengalas
Tomem as cervejas enquanto mostro-lhes minha nova ocupação
Agora me tornei colecionador de bengalas!
Vejam esses exemplares que arranjei na Estação da Luz
Credo em cruz!
Essas bengalas devem ter saído de algum sarcófago
E todos se puseram a rir, menos o professor
Idiotas, não sabem apreciar objetos de valor!
Não entendem quando estão diante de uma verdadeira escultura em madeira?
Mas, o senhor não era colecionador de máquinas de escrever?
Isso mesmo, era sim!
As vendi para comprar essas nobres e valiosas bengalas
Vejam essa daqui, pertenceu a Mário Quintana
E essa outra foi usada por Charlie Chaplin
O senhor não nos engana
Essas bengalas não foram nem de Chaplin
Muito menos de Quintana!
Vamos acabar com essa cerveja
E dar o fora, seu velho sacana!
Todos riram e brindaram a amizade
O poeta abriu um caderninho
E iniciou alguns versos sobre a ocasião
O colecionador de besouros resolveu partir e todos se retiraram
O professor agradeceu-lhes a visita e voltou para a sua solidão
*Baseado em conto de Fernando Sabino
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