quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Entre professor...




Sou perverso e excitante, mas só quero ir para casa agora
É tão tolo, fútil e inútil cantar para alguém quando se está sozinho
Ou para alguém que já não ouve o mundo há muito tempo
Atitude típica de quem é tagarela; há muitos nessa escola velha


Falar por falar... Sendo que Deus deu-lhe apenas uma boca, minha jovem
Ganhaste dois ouvidos, somente para ouvir mais
E falar menos, enquanto o surdo segura o cesto de morangos silvestres
Seria mesmo tão horrível envelhecer segurando esse giz branco?


Envelhecer sendo egoísta a vida inteira, furando filas nos bancos
Abstêmio, sem prazeres, sem trivialidades, sem bom humor
Só crenças e desavenças permearam minha existência
Lembro-me quando era jovem, magro e ridicularizado


Isso me servia como terapia, fazia-me forte por um instante
Agora, seu assovio me perturba e suas lágrimas pertencem só a você
Elas são sagradas, são femininas e te deixam ainda mais linda
Talvez seu maior defeito seja insistir em viver pela beleza


Enquanto o meu defeito é esperar pela herança
Mas ela nunca vem, mata-me a esperança
De dias melhores, abastados, resta-me essa caixa com velhos brinquedos
E, brincando mato o meu tempo...


Ah, velho tempo!
Certa vez, disseram-me que tenho pescoço e braços bonitos
Mas, minhas pernas são finas e não consigo ir muito longe com elas
Porém, vou longe com minhas idéias, com meus pensamentos fortes


Só as cãibras poderão me deter...
... E, dói tanto sorrir para o meu diretor, dói-me tanto a face
Sou professor e não consigo ensinar
Ensinar a mim mesmo a aprender


Fui acusado de culpa, mas, de negligência nunca me acusaram
Todavia, sinto que isso possa ser verdade
Condenado! Condenado! Mil vezes condenado por culpa
Tenho pena de mim mesmo, professor, eu tenho pena de mim mesmo!




*A Isak Borg, personagem de “Morangos Silvestres” (1957). Direção: Ingmar Bergman.

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