Enquanto o meu corpo era belo e havia dentes em mim
Perdoei os tormentos que o amor me trouxe
Diante da velhice me conformei, e me lembrei...
... Daquele corpo, que já não traz as mesmas convicções
Apenas convenções... Lembra-me um cômodo com mobília
Mas vazio, sem quadros, sem luz e sem música
Por suas janelas nada se avista
Nem sequer uma rua na profunda madrugada
Propenso ao ócio, com o rebanho me alinho
E, me sujeito resignadamente às várias opiniões
Essa fachada sem luz lembra-me uma cervical sem medula
Cedi a alma aos dogmas e me tornei uma espécie de fantasma urbano
Despojado de máscaras nada vi senão outras máscaras
Não há um “verdadeiro eu” nessa procura, há muitas peles sob a pele
Indo pelo atalho o caminho é íngreme e violento, não vale a pena se apressar
Na existência una, chegar a si mesmo é tão distante quanto ir a Plutão
Em verdade, nem Plutão é tão planeta quanto já fora e, nem o homem é tão puro quanto o primeiro homem que eu era
Depois de ir fundo, tão fundo ao ponto de mergulhar na escuridão que habita em mim, percebi que o “Eu” que tanto procurava
Não estava dentro e nem abaixo de mim, mas acima de
Pois, esse “Eu” é uma construção constante, um cultivo de si para si
*Baseado em citações de Friedrich Nietzsche
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