quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Nas alturas, olhei para cima




Enquanto o meu corpo era belo e havia dentes em mim

Perdoei os tormentos que o amor me trouxe

Diante da velhice me conformei, e me lembrei...

... Daquele corpo, que já não traz as mesmas convicções

Apenas convenções... Lembra-me um cômodo com mobília

Mas vazio, sem quadros, sem luz e sem música

Por suas janelas nada se avista

Nem sequer uma rua na profunda madrugada

Propenso ao ócio, com o rebanho me alinho

E, me sujeito resignadamente às várias opiniões

Essa fachada sem luz lembra-me uma cervical sem medula

Cedi a alma aos dogmas e me tornei uma espécie de fantasma urbano

Despojado de máscaras nada vi senão outras máscaras

Não há um “verdadeiro eu” nessa procura, há muitas peles sob a pele

Indo pelo atalho o caminho é íngreme e violento, não vale a pena se apressar

Na existência una, chegar a si mesmo é tão distante quanto ir a Plutão

Em verdade, nem Plutão é tão planeta quanto já fora e, nem o homem é tão puro quanto o primeiro homem que eu era

Depois de ir fundo, tão fundo ao ponto de mergulhar na escuridão que habita em mim, percebi que o “Eu” que tanto procurava

Não estava dentro e nem abaixo de mim, mas acima de

Pois, esse “Eu” é uma construção constante, um cultivo de si para si



*Baseado em citações de Friedrich Nietzsche

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