quarta-feira, 3 de junho de 2009

Chegando no universo escolar



Creio que era o primeiro dia de aula, talvez o segundo. Não me lembro tão nitidamente; afinal, faz-se décadas e só agora me propus a narrar esses acontecimentos de minha infância.
A mente busca; como dizia Rubem Alves: - Memória boa é a que sabe esquecer. Fica o que marcou, dissipa-se o grande volume que o cotidiano gera sem cessar.
Manhã quente como não podia deixar de ser naquela pequena cidade do interior nordeste do Estado. Clima naturalmente pacato, início de aulas, crianças em ebulição.
Íamos eu e minha mãe, mãos dadas sobre as calçadas irregulares, a brincar com latinhas, tentando chuta-las cada vez mais longe de mim, vendo papéis decifráveis ao chão, sentido a brisa matutina e o canto dos pássaros a desejar liberdade.
Ao chegar, portão de entrada, funil de crianças, minha mãe a soltar minha mão.
Foi como se meu cordão umbilical tivesse se partido naquele momento.
Estava livre, ganhava o mundo, enfrentaria novidades, o incerto, não sabia de nada, não possuía experiência para prever, não conhecia o mundo fora do alcance visual que se formava, mundo além do imaginado por aquele pequeno cérebro novel.
Chorei. Não enfrentei. Abracei o mais forte que consegui as pernas de minha mãe.
Mochila nas costas, caderno, cartilha, lápis e borracha seriam minhas armas. Acessórios vãos? Não suportei a idéia de trocar minha mãe presente por aquele lugar envolto em um grande muro alto e amarelo com umidades que escorriam por suas colunas.
Entraria numa sala recheada por objetos não familiares? Quem são todos?
Precisava adentrar? Já sabia ler, decifrar as horas do relógio de ponteiros de meu pai. Que mais me faltava?
Mamãe tentava se despedir, chegou até ali. Ponto máximo de aproximação da escola. Porque não me acompanharia no momento de maior tensão de minha vida?
Tudo o que sabia era que não queria aquela solidão coletiva.
Olhei para o lado, o Juliano chorava a olhar para sua mãe que se distanciava.

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