quarta-feira, 3 de junho de 2009

Naves e foguetes



Seu nome era Rodrigo. Garoto franzino, pele negra e cabelos crespos. Um fantástico jovem negro. Único filho legítimo de uma família de sete irmãos, todos adotivos, Rodrigo se destacava entre os demais por ter um dom: desenhava como ninguém.
Era só ter um tempinho que lá estava ele a desenhar em seu caderno. Seu universo era infinito. Na lousa nos presenteava com enormes dinossauros: Tiranossauros Rex era sua especialidade, mas também criava belos Pterodátilos.
Nossa! Meu primeiro ídolo. Um verdadeiro artista e só tinha a minha idade. Éramos tenros jovens de sete anos vividos e aquele ser tão poderoso tinha o dom de materializar qualquer coisa: carros de corrida, naves, foguetes chegando a Saturno, o Pernalonga e o Godzilla.
Mas o melhor era que o Rodrigo era meu vizinho e gostava de minha companhia. Brincávamos o dia todo e sempre comíamos em minha casa. Chegava sempre faminto com sua surrada camiseta bege e almoçávamos assistindo Spectreman. Vez em quando jantávamos em sua avó.
Sempre quis ser desenhista, talvez por influência do Rodrigo, mas desenhar não é para quem quer, é dom divino.
Certa vez estávamos a brincar sobre uma enorme sete copas que nutria de sombra a frente de sua casa.
Num galho forte recoberto de folhas vivas, dominados pelo lúdico, viajávamos num helicóptero que abatia inimigos e resgatava soldados aliados, quando algo aconteceu. Olhei para o lado e meu co-piloto não mais estava; ejetara ou caíra? O que fazer?
Olhei para baixo e lá estava o Rodrigo. Contrações faciais expressavam o choro que ainda não explodira. Seu fôlego precipitara.
Comecei a descer e ele a chorar. Mãos ao ombro, choro expansivo. Sua mãe ao encontro; Rodrigo nos braços sendo carregado para o carro que pairava como samambaia na garagem fresca.
Abri os portões e esperei. O carro se foi.

Maaarciiioooo!!!, Cheguei.
Era o Rodrigo. Abri a porta com um copo de leite gelado na mão esquerda e o vi. Faixas e espumas envolviam seu tórax séquido como um ato de mumificação não completado.
- Quebrou a clavícula, disse sua mãe que o acompanhava prestativa e já quase aliviada do grande susto.
- Passe lá em casa mais tarde para vermos um filme. Mamãe passou na locadora e pegou. O herói é um príncipe que se transforma num bravo guerreiro. Ele tem uma espada e uma fera que é seu melhor amigo. Vai ter pipoca e suco de laranja também, narrou brevemente Rodrigo com os olhos ainda inchados pelo choro dolorido.
- Uau!!! Vou pedir para minha mãe, Rodrigo. Não vejo a hora de conhecer esse herói.

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