quarta-feira, 3 de junho de 2009

O casulo


Sempre o via solitário, quieto, parado a olhar para lugar nenhum.
Ninguém se aproximava dele.
Ele, em seu casulo imaginário, não se permitia com ninguém.
O cotidiano escolar era muito dinâmico, muitas crianças tentando provar algo.
Interação ramificada entre centenas de células hiperativas.
Menos o Cristiano. Seu estrabismo era seu escudo.
Seu tapa-olho seu casulo.
Toda vez que eu o via no recreio ou nos intervalos de aula, lá estava a criatura ímpar com um tapa-olho de esparadrapos em seu olho direito.
Perguntei a mamãe e ela havia me dito que aquele recurso era para ativar o olho esquerdo estrábico de modo que corrigisse seu foco de visão.
“Ah”! Exclamei. “Não entendi nada”, pensei.
Senti pena. Imaginei se fosse comigo.
Olhando para mim não via nada estranho.
Sabia que tinha uma coisa chamada asma.
Isso me impedia de respirar direito, vez em quando, e quando emanava tossia muito.
Só que isso apenas ocorria em pequenos períodos do ano, tempo seco ou contato com poeira.
Mamãe controlava tudo isso em minha vida.
Mas asma não se vê externamente como um tapa-olho de esparadrapo branco.
Sobre esse fato, quando muito me lembro, enquanto criança, nunca nos aproximamos. Lembranças de interação em âmbito escolar não há.
Hoje, adultos, nos tornamos grandes amigos por encontros do destino.
A lembrar da infância é até estranho relacionar aquela criança tímida e introvertida encostada na parede em frente à quadra olhando os meninos correrem, jogarem e gritarem, com o advogado por trás dos óculos que existe hoje.
Pensava eu ser opção dele.
Ele, não sei o que pensava.

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