quarta-feira, 3 de junho de 2009

Usar a voz



Quando uma criança é exposta em sala de aula ficam seqüelas que perduram por toda a vida. Sempre tive muito receio de falar em público, de apresentar seminários, de fazer demonstrações nos trabalhos de Física Mecânica.
Parece que, à medida que o receio aumenta a exposição também aumenta. É um fato relativamente proporcional na vida do estudante tímido.
Em sala, a interação proposta pelo professor junto aos pupilos é quase sempre entendida como alvo pelos jovens, uma indagação é sinônimo de punição e não de interação, e assim, seguem sôfregos e contundentes. Combatentes do anti-ensino, voluntariosos na campanha.
Essa timidez, analizando-a agora, nunca teve sentido em minha vida estudantil, pois era um aluno comunicativo com meus companheiros de sala, brincava a tarde inteira na rua, nos campinhos de futebol e sempre estava liderando algum grupinho de crianças com o intuito de brincar de algo.
Mas na escola, diante das professoras (no ensino fundamental sempre tive mulheres como professoras, fato curioso e só agora me toquei) ficava estático, inerte quando necessitava me expor, explanar algo relevante e didático.
Por que será?
Hoje como professor percebo a mesma timidez nos alunos hipercinéticos, aqueles que levantam e falam o tempo inteiro. Aparecem mais que o professor durante toda a aula, chamam a atenção para si e são os brincalhões da turminha.
Mas é só aplicar um seminário, uma explanação e lá vão eles a esfregar as mãos, gaguejar e ler a fala o tempo inteiro.
Por que será?
Alunos discernidos, crianças competentes, futuro promissor, notas altas nas provas escritas, alunos medianos, notas medianas, alunos coladores, notas quase medianas, alunos recuperadores, alunos vãos, chamadas orais. Todos estão no mesmo barquinho quando o assunto é exposição.
Exposição simples: “Olha, o seminário é sobre a miscigenação do povo brasileiro. O grupo Um falará dos Índios, o grupo Dois falará dos Brancos, o Três dos Negros e o grupo Quatro falará dos Imigrantes. Abordem o texto e cada um fale um pouquinho sobre nossas raças. Ok!”
Nossa, é um colapso no cotidiano extra-escolar deles. Se atrapalham, não conseguem se organizar em grupos, um sempre faz mais que outros, lêem e gaguejam sem parar.
Na faculdade a coisa não muda. Parece um pesadelo repetitivo na vida do discente.
Época de Trabalho de Conclusão de Curso: estresse e choro. Pesquisas inacabadas, sem sentido, sem conclusão lógica. Lembro-me que a Tininha, aluna exemplar do Curso de Educação Física, futura profissional promissora, aluna nota dez, apresentou seu TCC aos prantos, soluçando muito. Foi uma emoção tediosa para quem assistiu.
Por que somos assim quando o assunto é falar em público?
Qual o bloqueio, qual o receio, qual o medo avassalador que nos congela e nos acua?
Somos fortes, somos preparados para brigar por nossos direitos, somos falantes quando o assunto é o capítulo anterior da novela, quando o assunto são as CPIs do Congresso Nacional. O brasileiro sabe de tudo um pouco e todo mundo opina sobre tudo.
Então?
Qual é a nossa culpa de falar um assunto pertinente em público, seja para conhecidos ou desconhecidos?
Ninguém sabe.
Mas sabemos que o período escolar é a época do plantio. Semear para colher é provérbio bíblico e nos conduz ao futuro contemplativo.
“O hoje é o amanhã que tanto nos preocupava ontem”, disse certa vez o anônimo. Façamos dele nossa casa, nosso caminho e vivamos ativamente falando e expondo.
O Professor é e sempre será formador de opiniões. Façamos jus a esse privilégio.
Interação recíproca com a sala pode ser a solução?
Todos participando ativamente. Todos falando sobre os assuntos abordados, todos se interagindo como um grande teatro participativo. Atores e platéia num só espetáculo. Interação mútua e cooperativa.
Algo deve ser pensado e feito. Façamos das nossas crianças grandes formadores de opinião, conclusivas e expansivas, sem medo nem receio de usar a voz.

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