sexta-feira, 5 de junho de 2009

O portão e a ferrugem



Estava à minha frente, estático, friamente inanimado, ele: o portão.
Não era, ele, o principal meio de se adentrar ao ambiente, todavia era o portão.

Mais simbólico que utilizável, de pouca eficácia, tinha papel e função tanto quanto secundária, preso ao muro da parte oposta da casa na qual vivo e convivo.

Agora, numa noite amena, estupefato, aprecio pela janela, ele, o portão.
Metálico, com uma essência intríseca, como se originasse e representasse uma fortaleza, lá permanecia ele.
- Que fazes aí portão?
- Qual a sua verdadeira finalidade?
- Seria imprescindível sua presença nesse local, óh miserável e solitário portão?
Tudo isso me faz refletir se realmente necessitamos de certas peculiaridades para nosso bom convívio e funcionalidade em algum ambiente específico.
Seria eu, na vida, assim como o portão?
Qual minha verdadeira e real funcionalidade?
Tenho realmente necessidade de ser útil, sou útil pela natureza inerente ao meu ser ou simplesmente pela minha existência humana, quero e devo, me tornar útil?

Mas, útil a que?
Útil a quem?
A mim mesmo, aos seres ou ao planeta?
Quantas perguntas brotam de minha mente entorpecida por oxigênio sujo.
Quantas dúvidas emanam dentro de minha consciência corrompida e já não pudica em sua essência.
É como se as conscupisciências terrenas tivessem me degenerado, como a ferrugem degenera o metal do portão, sem que o mesmo tome alguma atitude por si.
Apenas observa e sente.

A ferrugem manifestada só poderá ser interrompida se algum ser ou substância atuar de forma direta no combate a oxidação que se prolifera vagarosamente e contínua, como um câncer atua no âmago dos corpos distraídos sem ser percebido notoriamente a tempo da busca de solução.
Ao nos darmos conta, quase sempre é tarde demais!

Estamos à mercê das intempéries do destino, da mesma forma que o portão à ferrugem?
Como poderemos, de alguma forma, alterar uma realidade que se faz presente, e nos gera incômodo, desconforto?
O que poderá fazer um portão diante de algo terrivelmente corrosivo à sua estrutura metálica?
E nós mortais efêmeros diante da imensidão do tempo e do espaço, o que poderemos efetuar para obtenção de êxito em nossos impasses cotidianos, infortúnios, patologias?

Se a oxidação vem do oxigênio, então também enferrujamos como o portão?
Fica a pergunta no ar. Ar que respiramos.

- Pensem, óh mortais racionais, pensem.

Um comentário:

  1. Ola meu bem... Parabéns pelo texto: O Portão!!
    Gostei muito deste trecho:
    " ferrugem manifestada só poderá ser interrompida se algum ser ou substância atuar de forma direta no combate a oxidação que se prolifera vagarosamente e contínua como um câncer atua no âmago dos corpos distraídos sem ser percebido notoriamente a tempo da busca de solução.
    Ao nos darmos conta, quase sempre é tarde demais!".
    É a mais pura verdade, devemos cuidar sempre.
    Um beijo e já estou divulgando seu blog.

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